Juro que é verdade
As dívidas são uma coisa complicada, muitas vezes desagradáveis, que trazem à tona sentimentos pouco elegantes. E não é de agora, pode-se até dizer que desde sempre a humanidade partilha da antipatia, se não pelas dívidas, pelo menos pela sua consequência natural, os juros.
Tanto é, que muitas das maiores religiões se dedicam a demonizar a ideia de cobrar juros altos, a usura. Na Biblia, chama-se de “Nesek” e dizem disso o que Maomé não disse do toucinho. No Corão, maldiz-se sim é a “Riba”conceito equivalente. E talvez nenhuma religião tenha mais objeções fanáticas contra os juros do que o Socialismo, ou como eles dizem, “contra os Mercados”.
Na verdade, as dívidas estão apenas a ser mal interpretadas, há uma enorme diferença entre os juros e os juros abusivos, a tal da usura, a Nesek, Riba ou até os Mercados. Pois que, não há nada de mal em emprestar dinheiro, nem sequer em cobrar juros. O mal está em dever demais.
Quem melhor explicou a questão foi o inventor da economia moderna, Martin de Azpilcueta, primo de São Francisco Xavier, doutor da Escola de Salamanca e da Universidade de Coimbra. Azpilcueta, nascido no mesmo ano em que Colombo atracou nas Antilhas, dedicou a sua longa vida a explicar conceitos especialmente úteis, como o Valor do Tempo, que, estranhamente, até ali ninguém se tinha dado conta.
Nem até, nem depois, porque, apesar de óbvio, a ideia que o tempo tem valor é até hoje atropelada por todos os talibãs econométricos. Qualquer pessoa séria sabe que faz muita diferença ter o dinheiro hoje e agora ou daqui a sabe-se lá quando e, portanto, se o pagamento não é feito no momento imediato e se deixou para depois, o preço não pode ser o mesmo. Essa diferença é o juro.
Não poderia assim haver resistência moral à ideia de cobrar juros sobre um empréstimo. Pois que o empréstimo não é pago no mesmo momento em que é recebido, então não há como o valor se manter o mesmo, tem de se acrescentar juros. A questão é saber qual o juro.
Algumas almas mais simplórias gostam de argumentar que o juro bom é baixo e o juro alto é mau. É pena que eles nunca se apanhem a aplicar essas mesmas ideias a si próprios. Por exemplo, quase todos os políticos tendem a alinhar na conversa de que o juro alto é mau, no entanto, nenhum deles aceita as suas próprias palavras como um argumento válido para não cobrarem juros brutais sobre os impostos atrasados.
Vai se a ver, e a questão não está no valor do juro, se alto ou baixo, mas no fim a que se destina o empréstimo. Voltando ao básico do tempo e o seu valor. Como bem explica Azpilcueta, no momento que se empresta dinheiro a alguém, está-se a abdicar de o pôr a render e esse rendimento perdido é parte do valor do tempo no dinheiro.
Por exemplo, vamos supor que Abel empresta dinheiro a Caim. Com esse mesmo dinheiro, Abel, poderia comprar um apartamento e pôr a alugar, ou um pomar e colher frutas, ou um carro e trabalhar de Uber. Mas ao emprestar não poderá obter esse rendimento, logo tem de ser compensado. Nem que seja porque Caim poderá agora fazer tudo isso com o dinheiro que deve e deve como tal partilhar o quanto ganha.
Ora aí está, se o Caim pegar no empréstimo que recolheu e o aplicar em alguma coisa produtiva, fica evidente que não lhe basta devolver o que pediu emprestado, mas tem de partilhar o valor assim criado. O problema é quando o Caim não trabalha e pede dinheiro apenas para gastar em porcarias não produtivas.
É que todas as transações têm dois lados e se há de facto um caso em que o juro é excessivo, envolto em pecado, Riba como dizem no Islão. Trata-se de quando o empréstimo é feito para consumo. Quando quem pega emprestado não tem nenhuma intenção de aplicar aquele dinheiro a fazer mais dinheiro e o vai apenas gastar. Nesse caso, até os deuses se levantam em vão e têm as religiões muito boas razões para criticar.
Quem pega dinheiro emprestado para gastar em férias, em jantaradas, em tachos, está a prestar um mau serviço ao dinheiro. Pois não tem como recuperar o que deve, quanto mais fazê-lo crescer. Este é o pecado da Usura, gastar o que não se tem. Pedir emprestado e desperdiçar.
No extremo desse mau exemplo está o Estado. Ninguém desperdiça mais do que o Estado, tal como ninguém deve mais que o Estado, não é por coincidência. Toda a dívida pública é dinheiro gasto em consumo improdutivo dos burocratas, não gera nenhum retorno e a prazo terá de ser pago por inocentes. São impostos sobre as crianças. Aí sim, quem contrai esses tipo de dívidas irresponsáveis, merece o inferno. Mas só eles e mais ninguém.
No final de contas, quem pede emprestado é que tem a responsabilidade de aplicar bem o dinheiro, em produção. Não se pode esperar que o emprestador saiba mais do que devedor sobre o que este vai fazer ao dinheiro. Portanto, se o juro é alto, o empréstimo excessivo ou o gasto em consumo despropositado, só o devedor o sabe.
Tanto é que nenhum devedor potencial se apresenta ao credor dizendo que vai pegar dinheiro para vinho verde, prostitutas, progressão na carreira dos sindicalistas, mais umas negociatas esquisitas com equipamento militar e reformas milionárias. Claro que não. No momento de pedir emprestado dizem-se todos muitos responsáveis e ajuizados. É assim por isto que juro é verdade.
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