História bem Contada
Se a História fosse um romance policial, o culpado não seria o Mordomo, era o Contabilista. Pois que, desde que a História se conta é a Contabilidade quem no fim faz as contas e até saber em contado quem perde ou ganha, tudo o mais pode ser uma ilusão.
As falhas da contabilidade estão por detrás de persistentes equívocos sociais, políticos e económicos. Mas podem, enfim, estar para acabar, pois o Bitcoin resolve isso. Afirmação que merece algum contexto. Vamos então para trás, mais de 5 mil anos, até aos Fenícios.
Os primeiros registros escritos, de toda a História, as primeiras provas da civilização encontradas, são uns pedaços de barro cozido, escritos em língua cuneiforme, com textos variados. Todos eles vindos da contabilidade. Só muito mais tarde, séculos, é que alguém com demasiado tempo livre aproveitou a tecnologia da escrita para contar as histórias dos Reis ou dos Deuses. Já bem depois de se rabiscar milhões de placas a contabilizar árvores de fruto, quantas ovelhas num rebanho ou o número dos sapatos comprados. Tal é a prioridade dos homens.
Nem foi sequer uma bizarria euroasiática, quando los conquistadores entraram pela América do Sul adentro, deram conta de impérios, gente que não sabia escrever as futilidades sobre o casamento do Rei, mas tinha um sistema de contabilidade financeira, o Quipu, em tranças de pelo de alpaca, bastante avançado. O primeiro passo para a civilização foi então aquilo que se convencionou chamar de contabilidade, de única entrada.
Trata-se de um sistema simples, onde se regista por ordem sequencial o que se gastou e o que se ganhou, mantendo o saldo do quanto foi acumulado. Este sistema, usado até por crianças com mesada, funciona bastante bem, mas é tremendamente suscetível a erros bem intencionados.
Como a cada passo se refaz o saldo, basta um só erro para invalidar todo o acumulado e uma vez feito o erro, não há como ir atrás para o identificar e emendar. A fragilidade da contabilidade de simples entrada, manteve-se fatal até há 500 anos atrás, sendo talvez responsável pela ausência de crescimento económico mundial na antiguidade e o colapso de incontáveis impérios.
O mundo moderno só começa a contar no Século XV, quando um monge Italiano, Luca Paciolini, decide que nada mais místico haverá do que inventar uma nova forma de contabilidade. A criação, que depois foi chamada de Contabilidade de Dupla Entrada, não terá sido rapidamente aplicada ou sequer entendida. Mas com o tempo, lá se lhe permitiu realizar tudo aquilo que consideramos hoje ser o mundo moderno, mais a inegável superioridade económica da civilização ocidental.
Graças a esta nova (com 500 anos) forma de contabilizar, deixou de haver enganos simples e involuntários a dar cabo das contas, e o que que se seguiu, foi uma explosão de actividade económica e comercial e financeira e cultural, que nos trouxe até aqui, com o poder para discutir com estranhos na internet.
Graças à invenção do monge Paciolini, deixou de ser possível fazer pequenos erros involuntários e fatais na contabilidade, mas manteve-se bastante fácil fazer grandes mentiras parecerem verdade. Na contabilidade de dupla entrada, os números não mentem, mas os mentirosos usam números. Assim foi, até este novo milénio, com a verdade tão manipulada que há quem chame de filosofia pós-moderna à ausência de lógica.
Eis senão quando, no preciso momento em que os falsificadores da política, se sentem confortáveis para sem se rir, dizerem que: menino é menina; CO2 é poluição, gastar dinheiro é ganhar dinheiro; roubar é generosidade, etc. aparece a solução de que tanto precisávamos. Vindo pôr fim à insanidade social que é o pos-modernismo. Nasceu o Bitcoin, o Blockchain, ou mais genericamente, a Contabilidade de Tripla Entrada.
O conceito de Tripla Entrada foi descrito pela primeira vez em 1989, autoria de Yuji Ijiri, um impressionante académico japonês, o equivalente moderno do monge Paciolini. O seu feito aparentemente foi ficar na poeira da História, até 2011 e ao nosso bem desconhecido, Satoshi Nakamoto, lhe dar utilidade.
A invenção de Satoshi, o Blockchain, é a primeira (e melhor) aplicação do conceito de contabilidade com tripla entrada. Que, tal como foi da simples para a dupla, demorou a pegar, mas veio resolver um problema absolutamente colossal, os erros, não os involuntários, mas os propositais.
Graças ao Blockchain não será mais possível fazer fraudes contábeis, não haverá mais espaço para BES e Lehman Brothers, não se irá continuar a enganar os jovens com os fundos da Segurança Social, não haverá hiperinflação e corralitos nas poupanças. Tudo o que são as fraudes contábeis que enriquecem os burlões da política vão ser eliminadas (não é por acaso que essa gente poderosa não gosta do Bitcoin).
O Bitcoin é verdade, porque é Blockchain, que é contabilidade com tripla entrada, à prova de fraude. Uma vez detendo a chave privada, não há forma de enganar, de falsificar, é o dinheiro perfeito, livre, privado. 5000 anos depois de inventada a simples contabilidade, 500 anos depois da dupla entrada, bem na ocasião em que os políticos achavam que tinham tudo controlado. Libertando, enfim, cada um de nós para fazer uma escolha brutal.
Acreditar que os políticos vão abdicar de mentir, vão deixar de extrair a riqueza da população através da manipulação do dinheiro? Nesse caso, deixem-se ficar com os Euros, Dólares, Reais, Pesos, Liras Turcas e o diabo de dupla entrada. Ou será então mais provável que os políticos, expostos por todas as crises, déficits e inflação, podem vir a ficar desesperados? Nesse segundo caso, mais vale ter alguns Bitcoin ao fresco. Esta é a verdade, contada.