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Luís Gomes
Luís Gomes
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O Bitcoin, frequentemente apelidado de “ouro digital”, continua a atrair atenções por todo o mundo – tanto de indivíduos à procura de refúgio monetário como de instituições e governos. A mais recente e surpreendente mudança veio do governo dos Estados Unidos, que anunciou, no início de Março de 2025, a criação de uma “Reserva Estratégica de Bitcoin e Activos Digitais”. Esta medida marca uma inflexão histórica na abordagem estatal norte-americana à mais conhecida das criptomoedas.

Mas o que está verdadeiramente em jogo com esta reviravolta? Como devemos interpretar esta mudança abrupta de postura – de hostilidade activa para adopção estratégica – por parte do Estado que historicamente se posicionou como opositor de alternativas monetárias fora do seu controlo? Analisemos em detalhe o que está por detrás deste movimento.

bitcoin

De moeda insurgente a activo estratégico: a nova narrativa oficial

Durante mais de uma década, o governo dos Estados Unidos reprimiu, criminalizou e confiscou o Bitcoin. Os exemplos são muitos: da apreensão de milhares de Bitcoins no caso Silk Road à pressão regulatória sobre plataformas e indivíduos.

Contudo, no dia 6 de Março de 2025, o presidente Donald Trump assinou uma ordem executiva que estabelece a criação da chamada Strategic Bitcoin and Digital Assets Reserve (Reserva Estratégica de Bitcoin e Activos Digitais), formalizando assim a posse estatal de mais de 208 mil Bitcoins – estimados em mais de 20 mil milhões de Dólares norte-americanos.

Esta reserva, composta sobretudo por Bitcoins anteriormente apreendidos, passa agora a ser considerada uma reserva oficial do Estado norte-americano. Em termos práticos, é como se o governo norte-americano tivesse decidido que o Bitcoin, outrora inimigo, passaria a integrar o seu arsenal económico – ao lado do ouro, das obrigações do Tesouro e de outros instrumentos financeiros.

Este movimento não ocorre no vazio. É um sinal claro de que os governos estão a reconhecer que o Dólar norte-americano, como o conhecemos, está a perder o seu poder. A motivação não é filosófica nem ideológica: é uma tentativa pragmática de manter relevância e influência monetária num mundo em rápida mudança.

As seis características que fazem do Bitcoin uma moeda sólida

Identifiquemos seis características que toda boa moeda deve possuir: durabilidade, divisibilidade, transportabilidade, uniformidade, escassez e aceitabilidade. Curiosamente, o Bitcoin cumpre cada uma delas – e, em certos casos, até melhor que o ouro.

  • Durabilidade: Embora o Bitcoin não seja físico, a sua existência digital torna-o imune a desgaste. É um registo imutável no blockchain, que sobrevive a falências bancárias, a guerras e a mudanças de regimes;
  • Divisibilidade: Cada Bitcoin pode ser dividido em 100 milhões de unidades chamadas satoshis, o que torna viável a sua utilização em transacções do quotidiano;
  • Transportabilidade: Um utilizador pode deslocar milhões em Bitcoin com um simples código – sem necessidade de transporte físico, câmbios ou intermediários;
  • Uniformidade: Cada satoshi é indistinguível de outro, o que elimina problemas como a adulteração ou a necessidade de avaliação como sucede com os metais preciosos;
  • Escassez: O fornecimento de Bitcoin está limitado a 21 milhões de unidades. Nenhum Banco Central pode “imprimir” Bitcoin, o que lhe confere um carácter deflacionário natural;
  • Aceitabilidade: O aumento do número de utilizadores, instituições financeiras e agora até governos a aceitarem o Bitcoin como reserva de valor é o maior testemunho do seu sucesso.

A estas seis características acrescenta-se uma sétima, muitas vezes ignorada: a força monetária. Trata-se da capacidade de uma moeda manter o seu valor sem sofrer pressão dos produtores. Se os novos Bitcoins criados todos os anos representam apenas uma pequena parte do total em circulação, então os “produtores” – neste caso, os mineradores – têm pouco poder para influenciar o preço.

Na prática, isto traduz-se na chamada inflação monetária. Por exemplo, a platina é escassa, mas a quantidade extraída todos os anos representa uma parte significativa do inventário total, o que afecta o seu valor; ou seja, os produtores são capazes de influenciar de forma expressiva o preço.

Com o ouro, esse valor ronda os 2,5% ao ano – um número relativamente baixo. Já com o Bitcoin, à medida que nos aproximamos do limite de 21 milhões de unidades, essa inflação anual torna-se quase nula. Isto faz do Bitcoin o activo com a maior força monetária alguma vez existente: é, por natureza, resistente à diluição.

Em conclusão, não é por acaso que o Bitcoin desafia o estatuto de moeda soberana. É porque, objectivamente, satisfaz os requisitos essenciais de uma moeda funcional e está a ser adoptado de forma descentralizada – sem imposição estatal.

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O jogo geopolítico por detrás da adopção estatal do Bitcoin

A criação da reserva estratégica pode ser vista como um gesto de segurança nacional. Os Estados Unidos procuram garantir que não ficarão para trás numa eventual corrida global por activos digitais. Num mundo em que o Dólar norte-americano começa a enfrentar sérias ameaças ao seu papel hegemónico – com blocos como o BRICS a discutirem alternativas – o Bitcoin surge como um “activo neutro”, sem dono, que pode servir como reserva comum.

Contudo, alertamos para o risco da adopção estatal deturpar o espírito do Bitcoin. Afinal, trata-se de uma criação anti-estatal, desenhada precisamente para escapar ao controlo governamental. Ao incorporar Bitcoin nas suas reservas, o governo dos EUA pode tentar dar a entender que “domestica” a moeda digital, ou que pode regulá-la conforme os seus interesses.

Apesar de tudo, somo cépticos quanto à eficácia de tal manobra. O Estado pode tentar confiscar ou regular, mas não pode mudar as regras do blockchain. Não pode inflacionar o fornecimento de Bitcoins; não pode impedir que as pessoas usem outras carteiras, noutros países, noutros canais. O Bitcoin continua, portanto, a ser uma ameaça existencial ao monopólio monetário estatal.

Menos governo, mais mercado

A adopção do Bitcoin pelos Estados não deve ser celebrada como um triunfo, mas encarada com cepticismo. O ideal seria que os governos não tivessem qualquer papel na definição do que é ou não moeda. O dinheiro deveria emergir espontaneamente do mercado – como aconteceu com o ouro, a prata e, agora, com o Bitcoin.

Historicamente, todas as moedas emitidas por governos acabaram por ser desvalorizadas, manipuladas ou destruídas. Desde o denário romano até ao marco alemão ou ao papel-moeda da Venezuela, os exemplos abundam. O Bitcoin representa uma ruptura com esse ciclo: uma moeda que não pode ser inflacionada, censurada ou confiscada com um simples decreto.

No entanto, importa alertar o leitor para o seguinte: A maior ameaça ao Bitcoin não é a volatilidade dos mercados, mas a tentativa dos governos de o capturar, regulamentar ou transformar em mais uma peça do tabuleiro financeiro sob o seu domínio.

Um novo paradigma para o investidor

Para os investidores, esta nova postura dos Estados Unidos tem implicações relevantes. A primeira é o reconhecimento de que o Bitcoin já não pode ser ignorado. A mera criação de uma reserva oficial representa, implicitamente, um selo de legitimidade. Já não se trata de um “activo arriscado”, mas de uma moeda que o próprio Estado considera digna de integrar a sua política económica.

A segunda implicação é a possibilidade de que outros Estados venham a seguir o exemplo norte-americano. Países com grandes reservas em Dólares norte-americanos – como a China, a Índia ou o Brasil – poderão ver uma relevante vantagem em diversificar parte das suas reservas em Bitcoin, especialmente como defesa contra sanções ou manipulações cambiais.

A terceira é a aceleração da escassez. Se governos começarem a competir por comprar Bitcoin no mercado, o preço tenderá naturalmente a subir. Estamos perante um activo com oferta fixa e limitada, adopção crescente e agora até procura institucional governamental.

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Os riscos de uma “estatização” do Bitcoin

Por mais paradoxal que pareça, o maior risco que o Bitcoin enfrenta neste novo cenário pode ser a sua própria popularidade junto dos governos. Há um perigo real de que o Estado procure distorcer a natureza descentralizada do Bitcoin, integrando-o em sistemas de vigilância financeira, impondo restrições a carteiras privadas ou até promovendo versões “oficializadas” do Bitcoin.

Uma das possibilidades futura pode ser o aparecimento de um “Bitcoin estatal”, cujas transacções apenas possam ocorrer em plataformas registadas, com vigilância obrigatória, KYC e outras amarras regulatórias. A essência do Bitcoin – liberdade, anonimato, soberania individual – seria, assim, comprometida.

Para evitar esse destino, cabe à comunidade que celebra o Bitcoin reforçar a educação descentralizada e apelar à resistência contra projectos de regulamentação invasiva. O Bitcoin é poderoso não porque é reconhecido pelos governos, mas porque é reconhecido pelas pessoas – e porque funciona independentemente da sua aceitação oficial.

Conclusão: a batalha pela soberania monetária está a começar

A criação de uma reserva estratégica de Bitcoin por parte dos Estados Unidos não é um episódio isolado. É o prenúncio de uma nova etapa na disputa entre a moeda estatal e a moeda livre. O Bitcoin, que nasceu como alternativa, está agora a ser cortejado por aqueles que antes o combatiam. Isso, embora represente uma vitória simbólica, também exige prudência.

Cabe aos utilizadores, aos investidores e aos defensores da liberdade monetária manter viva a chama do propósito original do Bitcoin: ser uma forma de dinheiro independente do Estado, resistente à censura e verdadeiramente global. Num mundo cada vez mais instável, o valor do Bitcoin está justamente na sua resistência ao controlo centralizado.

O movimento do governo dos Estados Unidos pode ser um passo na direcção certa – ou uma armadilha cuidadosamente disfarçada. Cabe-nos, como comunidade, garantir que a liberdade que o Bitcoin representa não seja trocada por um falso conforto estatal.

Destaques Autor
img:Luís Gomes

Luís Gomes

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