Um dedo digital e uma impressão online
Um dedo digital, online, é uma das muitas inovações que compõem o Bitcoin, das que abrem mais uma quantidade de oportunidades e aplicações, a maioria das quais ainda por criar e até difíceis de imaginar. O que, para entender, precisará andar um pouco para trás.
Para criar Bitcoin, Satoshi Nakamoto reuniu uma quantidade impressionante de novas tecnologias e conceitos genericamente chamados de Criptografia. Um conhecimento bastante obscuro, que há bem pouco tempo o exército americano considerava ser segredo de estado, baseadas num tipo de matemática ultra-complicada, só acessível a computadores e cujos cálculos confundem qualquer geniozinho da engenharia a ponto de parecer um jornalista estagiário.
Essa coisa começou a ganhar forma lá em 1976 quando dois obscuros matemáticos da Universidade de Stanford, Whitfield Diffie e Martin Hellman, introduziram o conceito de chave-privada + chave-pública. Depois disso, foi só esperar cerca de 30 anos e a contribuição de dezenas de invenções extraordinárias, até o Bitcoin estar pronto aparecer.
E ainda haveria mais a esperar, pois uma das inovações aplicáveis, as assinaturas de Schnoor, foi patenteada em 1990, por Claus Schnoor, do Instituto Goethe em Frankfurt e só ficou disponível para uso comum em 2008, o ano da criação do Bitcoin, motivo pelo qual foi preciso esperar até 2020, 10 anos e bem depois do desaparecimento de Satoshi Nakamoto, para um upgrade no código do Bitcoin (o chamado Taproot) incluir essas possibilidades.
Outro desvio para notar que apesar de ser uma evolução tecnológica extraordinária, a quantidade de prémios Nobel que contribuíram para o Bitcoin é um grande total de zero, nenhum. Primeiro porque não existe um prémio Nobel para a matemática, e boa parte das inovações usadas são fórmulas matemáticas. Em segundo lugar, porque, apesar de Satoshi Nakamoto ser o melhor economista de todos os tempos, o único que criou dinheiro, o prémio Nobel da Economia é geralmente atribuído a comunistas, anti-liberdade, anti-prosperidade e, portanto, anti-bitcoin.
De volta ao tal dedo online, ou como se chama na indústria, o par chave-pública chave-privada, é uma coisa que funciona mais ou menos como um dedo digital e a sua impressão online. A chave privada seria o dedo e a chave pública a impressão. Para assinar uma operação no Bitcoin é preciso ter o dedo, a chave, que deixa uma impressão digital, a prova, para que todos possam verificar se é verdadeira ou não.
Esta funcionalidade, assim simplificada para efeito de explicação, permite validar quem é que foi o autor de uma operação, ao mesmo tempo que protege a privacidade e propriedade de quem assina. Da mesma forma que para falsificar uma impressão digital seria preciso cortar o dedo, para falsificar uma assinatura de uma transação é preciso roubar a chave privada. Pois Bitcoin nunca foi hackeado, nunca falhou, todos os casos de pessoas que perderam os seus Bitcoins foi porque não tinham o dedo na mão.
Notar que o Bitcoin não é anónimo, bem pelo contrário, está carregado das tais impressões digitais por todo o lado. Não é nada fácil, ou até impossível, desaparecer sem deixar rastro e quando dizem que o Bitcoin é uma ferramenta para actividades ilícitas é porque nunca olharam com olhos de ver para um banco, ou porque sabem bem demais como se desaparece com dinheiro que outros pagaram em impostos, tipo as fotocópias que o outro gostava muito.
O Bitcoin é sim pseudónimo, ninguém é obrigado a revelar a sua identidade, mas toda a gente tem um tipo de alcunha que é inconfundível, infalsifícável. É bem como o exemplo do Satoshi Nakamoto, toda a gente sabe o que fez, e ninguém sabe quem é.
Voltando às fórmulas, é aqui que entra a inovação de Schnoor, as assinaturas que estavam sob patente em 2008, mais o upgrade Taproot de 2021, que incluiu esta novidade no código core do Bitcoin. Com isso, é agora possível colocar as impressões digitais em mais conteúdos do que apenas as transações financeiras. Até 2020, até ao tal upgrade, a forma como o código core do Bitcoin funcionava impedia que o dedo digital assinasse outra coisa que não fossem pagamentos finais, mas desde então, dá para combinar os pagamentos com a inclusão de qualquer mensagem ou condição.
Fica assim possível fazer uma quantidade de operações (na gíria chamadas de Smart-Contracts) condicionais, do tipo de apostas, empréstimos, recorrências, seguros e registros de propriedade. Toda essa complicação parece difícil, e é, de extrapolar, de entender para que serve, ou até acreditar que seja útil de verdade, mas, recorrer a um exemplo talvez possa ajudar.
Apresentando os Handshake Domains, que são endereços controlados por assinaturas Bitcoin. Confuso? Ainda mais! Sem problema, não é caso raro, mas vamos lá. Os domínios, ou URL, são os endereços que usamos para navegar na internet, aquela coisa do www.google.com ou http://communism.su. Cada domínio tem um dono, que é a pessoa que pode decidir o que aparece escrito na página com esse endereço. Ao presente os endereços e a sua propriedade, são controlados por umas entidades centralizadas, governamentais, que, na verdade, são os donos finais dos endereços, pois podem, a qualquer momento, bloquear o acesso ao endereço e proibir as pessoas de visitar o conteúdo censurado.
Com os tais Handshake Domains, mais umas boas iterações da tecnologia, que ainda está super na infância e não está pronta para operacionalizar, será possível ter controlo efectivo de um endereço de internet, de um URL, de um domínio, de uma coisa tipo www.aquimandoeu.sats , sem que terceiros, muito menos metediços burocratas do governo, possam objetar.
Os domínios assim controlados (através do dedo digital pseudónimo do Bitcoin) são como as moedas bitcoin, verdadeiramente privadas, propriedade pessoal, inconfiscável, não estão mais à mercê dos parasitas estatais. Mostrando assim que o Bitcoin é muito mais do que dinheiro (coisa que por si já é espetacular). O bitcoin é independência, liberdade. O Bitcoin é personalidade.