Previsões para o preço dos porcos, ferro e Bitcoin
Cincinnati, Ohio, corria o ano de 1873 e Samuel Benner, um criador de porcos, passa por tempos difíceis. O mercado caiu, arrastado por um pânico bancário. Pessoalmente, Benner ficou arruinado pelo baixo preço da carne, que fará a sua produção não compensar nem o alto preço do milho para ração que tinha comprado antes do crash.
Pior, não era a primeira vez que Samuel Benner passava por semelhante aperto. 11 anos antes, a mesma sequência de altos preços do milho que comprou e os baixos preços do porco que vendeu no ano seguinte, e mais uma crise bancária, deram-lhe tal cabo das finanças, que, à segunda, ainda não tinha completamente recuperado.
Desesperado, inspirado e determinado a não perder tudo, Benner tenta ao menos salvar alguma lição do seu duplo azar. Nos meses seguintes, desata a recolher estatísticas de anos atrás, preços de mercado e volumes de produção de todos os materiais que consegue encontrar. Talvez sem surpresa, identifica alguns padrões com os altos e baixos a repetirem-se com razoável regularidade.
Com esta informação, e sem computadores, compara as flutuações observadas com a situação política dos EUA, como a guerra com o México de 1845-47, com os anos de chuva e seca, mais os ciclos dos planetas Saturno e Júpiter e até a mitologia dos agricultores da antiguidade Clássica.
O resultado de tanta análise é em 1875 publicado em Livro: “Prophecies of Future Ups and Downs in Prices: What Years to Make Money on Pig-iron, Hogs, Corn, and Provisions”, obtendo suficiente sucesso editorial para que, a cada um dos anos seguintes e até 1991, serem publicadas novas edições, com atualizações das previsões para o novo ano e auferindo ao autor, um estatuto de celebridade, que lhe terá rendido mais dinheiro do que os porcos.
Uma das pessoas que Samuel impressiona é George Tritch, empresário de Denver, Colorado, revendedor de equipamento de trabalho, hardware, que segue com entusiasmo as recomendações de Samuel Benner e decide compilar os desconexos ciclos de 11 anos dos porcos, e os ciclos consecutivos de 16, 18 e 20 anos dos pânicos bancários, identificados por Benner numa simples tabela projectada 100 anos para o futuro.
Tritch fica tão feliz com a sua compilação gráfica, que decide imprimir a tabela no verso dos cartões de visita da sua loja e mostra-a para Samuel Beener que aprova o modelo, com um simpático autógrafo.
A tabela de Tritch resulta tão simples de obter e de interpretar que poderia dar cabo do negócio das previsões anuais de Samuel Benner, mas não foi o caso. Mais depressa Tritch e o seu negócio acabam esquecidos, para logo após Benner se aposentar, no que teria sido o fim desta história.
100 anos depois, na virada do mílénio, a tabela de Tritch é reencontrada por alguém na internet que não fica indiferente à qualidade das previsões. Lá estava, num papel amarelado: A Grande depressão, o crash do pós guerra e 1999 a bolha das dot.com. Comparado a manter-se no mercado, comprar e vender quando o modelo de Benner/Tritch indicava acertava 90% das vezes e teria rendido 30 vezes mais do que a base. É muito, porque é quase um século de uma expansão económica sem precedentes, quem tivesse aplicado o modelo teria ganho 30 dólares por cada dólar ganho pela média do mercado e transformando 100 dólares em 800 mil.
Chegados a 2023, a tabela volta a dar sinais, depois de vender acções em 2019 para evitar a pandemia de 2020 e agora é um bom ano para recomprar. É verdade que a situação económica está cheia de nuvens no horizonte, com guerra, tirania, dívida pública e governos cheios de gente que não sabe nem distinguir um homem de uma mulher.
Por outro lado, as coisas estão baratas. Por exemplo, o Bitcoin, que ainda em Janeiro estava morto nos 16 mil dólares, tem vindo a subir e parece pronto para uma nova arrancada. O ciclo de 4 anos do Bitcoin Halving, que agora recomeça, parece coincidir com a tabela de Benner. Se os ciclos se repetem, este será um bom ano para comprar e só pensar em vender lá para 2026 quando, provavelmente, estiver instalada uma nova bolha estapafúrdia nas criptomoedas.