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Henrique Agostinho
Henrique Agostinho
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Uma das atividades mais palermas do mercado financeiro são as apostas em produtos derivados de bens transacionáveis. Um entretém para gente com pouco amor ao dinheiro, tipicamente o dinheiro dos outros, que não só não constrói nada, como ainda por cima incomoda os demais.

Como quase todos os produtos financeiros, os derivados, na sua origem, tentaram atender a uma necessidade real, ainda que desde logo à partida esta tenha sido algo empolada, bem para além do estritamente necessário. Para depois, para além do exagero inicial e porque, para o pessoal da alta finança, abusar mais seria sempre de menos, as apostas derivadas acabaram por se expandir, até se tornarem essencialmente ervas daninha no jardim do mercado.

Um produto derivado, de futuros, com o qual se pode fazer apostas, é algo exuberantemente complexo com simples mecanismos. Trata-se de comprar uma coisa que ainda não existe, mas que uns já sabem vão precisar e outros que ainda a vão criar. Os vários produtos derivados, puts, calls e que mais, resolvem assim dois problemas de uma vez. De um lado há quem precise de comprar uma coisa que ainda não está feita e consegue assim garantir o preço e condições de entrega, enquanto, do outro lado, está outro que ainda vai produzir algo e desta forma consegue garantir o preço e as condições da venda. 

Simples e direto e de bastante utilidade nos mercado de materiais, minérios ou agrícolas. Pode-se até dizer que nesses casos, das batatas ao petróleo, os produtos derivados são essenciais para maximizar a produção e os operadores que se dedicam apenas à intermediação financeira desses negócios, ligando compradores e vendedores, a troco de uma comissão, até estão a ajudar.

Por oposição, as apostas em futuros tornam-se intratáveis quando a mesma ideia, os mesmos produtos, se aplicam a bens transacionáveis. Se no caso das batatas e afins haveria quem as quisesse plantar e dava-lhe jeito ter o dinheiro antecipado e quem as quisesse comprar e dava-lhe jeito garantir a mercadoria a tempo e os intermediários aí estavam justamente a juntar a fome à vontade de comer. Já nos bens transacionáveis a coisa não só não faz o menor sentido de existir, como apenas traz desvantagens.

Um bem transacionável, como uma acção, ou um título do tesouro, ou uma criptomoeda, é algo que está imediatamente disponível a qualquer momento (diz-se “spot”), e que comprar, não serve para muito mais do que não seja para revender no futuro. Como tal, aplicar a lógica dos futuros a um bem que não se consome e está sempre presente, não poderia correr bem, tanto que não corre. 

Um produto derivado de um bem transacionável, consiste em fingir comprar uma coisa que não se quer ter, apenas para tentar se aproveitar de alguém, que fez o mesmo negócio, mas ao contrário. Com toda esta desmaterialização a acumular uma quantidade de defeitos, que vai além do desperdício em comissões para intermediários que não acrescentam nada.

O primeiro defeito é que um produto derivado obtém, para o apostador, o resultado oposto ao desejado. É um proverbial tiro no pé. Se alguém compra um ativo financeiro é porque espera que o preço vá subir e com isso valorize o seu dinheiro. Mais, ao comprar um bem, que é por natureza escasso, estará só por si a contribuir para fazer esse subir o preço, contribuindo para obter o resultado desejado. Exceto se o fizer com um produto derivado. 

Num derivado, não se está a comprar nada, está-se mas é a pedir dinheiro emprestado agora e a prometer vender mais tarde. Não só não comprou, não levando o preço para cima, como se comprometeu a vender. Assim, não há o efeito de aumento da procura, porque não comprou, mas há aumento da oferta, pois está obrigado a vender, com juros. A cada dia que passa a coisa piora, empurrando o preço de equilíbrio mais para baixo.

O segundo defeito é o risco ilimitado. Porque os produtos derivados são apostas com dois lados, para alguém fazer o disparate de apostar numa coisa dessas, outro tem de garantir o resultado. Em vez de estarem a vender ou comprar algo que existe em quantidades contadas, estão a duplicar responsabilidades pelo pagamento de coisas que, provavelmente, não vão acontecer como esperado.

Pior, porque o valor de cada aposta é só uma fracção do valor do bem transacionado, o mesmo valor investido representa um risco de perda várias vezes superior ao aplicado. Quem gasta mil a comprar um ativo financeiro, arrisca mil e mais nada. Quem compra um produto derivado arrisca perder mil vezes o número de vezes que estiver a alavancar, não poucas vezes é por cem, fazendo o risco total de cem mil sobre mil apostados.

Mais pior, os profissionais, fundos de investimento, brokers, hedge funds e o raio, não se coíbem de fazer destes negócios em quantidades astronómicas, levando a que o total valor nocional das apostas, desses agentes, some trilhões de dólares. Quer dizer, se as apostas derem errado, e há pelo menos 50% de probabilidade disso ser o caso. Os players profissionais arriscam a perder números com 12 zeros, 000 000 000 000. Coisa capaz de desencadear um ou outro bailout, um risco que existe em permanente nos mercados.

Um terceiro defeito resulta desta mesma concentração de risco, em que uma relativamente pequena aposta pode causar efeitos multiplicados em grande escala. Ao existir esta desproporção de consequências, torna possível a manipulação do mercado. Para um só agente fazer os preços subirem ou descerem contrariamente ao valor real e às expectativas dos demais investidores, é preciso que esse alguém consiga mobilizar tanto ou mais do que todos os outros juntos. Ora, é precisamente o que os derivados permitem que se faça e, como tal, é exatamente o que esse pessoal faz. Bens cujos derivados são parte importante das transações, como o ouro, têm o seu preço inevitavelmente adulterado.

Por fim, em quarto, dos males dos produtos derivados, destaca-se que são mesquinhos. Ao contrário de comprar um ativo em spot, na hora, em que o comprador obtém utilidade do que comprou e acredita que comprou algo com valor superior e assim cria mais valor. Nos produtos derivados, ao não haver bem transacionado, qualquer ganho realizado será sempre à custa da perda do outro lado. Numa aposta com derivados, não há valor gerado, há ganhadores a expensas de perdedores, o que significa serem algo tipo o roubo ou os impostos, atividades prejudiciais para a economia em geral.

Tudo somado, neste quatro defeitos, da mesquinhez (4), manipulação (3), ganância (2) e sabotagem (1) encontra-se a explicação para muitos maus resultados nos mercados, como a recente queda do Bitcoin dos 30 para os 26 mil dólares. Efeito quase todo ele provocado pelo acumular de apostas derivadas (o chamado open interest) que subiu demais ao longo de Julho e Agosto, superando a quantidade de apostas o montante de procura orgânica (no mercado spot) e acabou por corrigir o desequilíbrio e resultar em crash (liquidação das apostas derivadas em excesso). 

Traduzindo, quem apostou com derivados que o Bitcoin iria subir, esperava explorar as compras orgânicas dos outros e ganhar sobre-proporcionalmente à sua aposta inicial. Como os comportamentos parasitários são sempre demais, o excesso de derivados (o elevado open interest) acabou liquidado, viraram vendedores forçados, empurrando o preço em cascata para baixo. 

Agora, uma vez esvaziadas as apostas em derivados, o Bitcoin irá retomar o seu movimento normal, para cima, devagar, até que a ganância e mesquinhez dos apostadores se acumule de novo (em derivados) e provoque de novo um movimento brusco para baixo.

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Henrique Agostinho