Defi: a salvação do mercado de poupanças?
Muitos perguntam: o que são as taxas de juro? De onde surgiram? Para que servem? Isto são perguntas básicas que os economistas deviam fazer todos os dias; infelizmente, não é o caso nos dias que correm. Julgo que as taxas de juro talvez sejam uma das matérias mais negligenciadas nas cadeiras de Economia das Universidades.
O tempo é a chave para entender as taxas de juro. O tempo é escasso, o tempo tem valor, os juros são o valor do dinheiro no tempo.
Podemos dizer que os homens preferem o consumo presente ao consumo futuro e, assim, desconsideram futuras satisfações das suas necessidades. A vida é incerta e podemos morrer, ou simplesmente as nossas preferências por bens futuros podem modificar-se.
Um carro novo comprado hoje, mas adquirido a crédito, proporciona maior satisfação que a “dor” de realizar o pagamento de juros. A maioria não está disposta a conduzir um carro velho durante anos para economizar dinheiro para uma compra à vista, isto é, sem recurso a crédito.
Se aceitamos que os humanos preferem o consumo presente ao futuro, segue-se que qualquer taxa de juro deve ser pelo menos nominalmente positiva. Ninguém abrirá mão do seu dinheiro para consumir hoje, para o emprestar – com os riscos inerentes – e receber menos.
Assim, os juros são o desconto que surge na economia de mercado para os bens futuros contra os bens presentes. Eu prefiro consumir 10 laranjas agora do que 10 laranjas daqui a um ano; mas já posso aceitar 11 daqui um ano para abrir mão das 10 laranjas que posso consumir agora; desta forma, desconto 11 laranjas daqui a um ano a 10%.
Este desconto sobre o futuro é realizado pelos humanos em dinheiro em lugar de bens. Como é fungível, qualquer unidade resulta na mesma satisfação, dado que não gera qualquer discussão sobre as unidades devolvidas àquele que concedeu o crédito.
Para além de descontar o futuro, também tenho que ter em conta eventuais alterações do poder aquisitivo do dinheiro. Se existir uma inflação de 2%, irei exigir 13% aproximadamente. Se, pelo contrário, existe deflação, vamos supor -2%, já cobrarei 9%.
Em resumo, os juros são as preferências temporais dos indivíduos. Infelizmente, a teoria Keynesianana, agora dominante, colocou os juros como uma recompensa por se abrir mão de liquidez. A questão é: vou gastar a poupança ou vou enfiá-la no colchão?
Desta forma, temos que ter estímulos fiscais e monetários sem fim por forma a manter o consumo das pessoas, visando compensar o que estas deixaram de gastar em virtude da sua “mania de poupar”: a razão por que hoje o aforro é tão vilipendiado, enquanto o consumo é endeusado. Parece que passar o cartão de crédito num dado POS pudesse exigir qualquer esforço ou sacrifício. Produzir, sim que exige sacrifício e esforço!
Os estimulos e a recessão ecónomica
Segundo a moderna teoria, são necessários estímulos ao consumo, caso contrário, a recessão económica está ao virar da esquina, algo que nunca podemos deixar que aconteça. Esta loucura de estímulos sem fim acentuou-se depois da crise financeira de 2008, em que os Bancos Centrais reduzirem os juros a 0%, mantendo-os assim durante anos a fio.
Tudo isto foi acompanhado da impressão massiva de dinheiro, em particular a partir de 2020, usando como desculpa a crise Covid-19: mais uma vez, havia que evitar uma recessão económica a todo o custo. Qual foi o resultado? Uma inflação a dois dígitos, em muitos casos acima de 10%, enquanto o dinheiro no banco recebe juros a 0%, mesmo depois da recente subida de juros por parte dos Bancos Centrais.
A tecnologia blockchain e as StableCoins vieram resolver este problema
Permitindo que a taxa de juro seja o reflexo das preferências temporais dos indivíduos, em lugar de um preço manipulado por um conjunto de burocratas reunidos numa sala uma vez por semana. Chamamos a isso finanças descentralizadas, mais conhecido por DeFi (Decentralized Finance).
Particularmente através de StableCoins, os indivíduos podem colocar as suas propostas para aplicarem as suas poupanças. Para um determinado prazo temporal, vamos supor um ano, existem propostas a 3%, 4%, 5% e por aí fora – a oferta de poupança.
Para entender melhor o que é blockchain acesse: Blockchain, a cura para a Burocracia
Do lado dos tomadores do crédito – a procura de poupança -, estes podem solicitá-lo, deixando um colateral em activos virtuais superior ao valor do empréstimo, caso contrário, não poderão solicitar qualquer empréstimo.
Esta é uma forma de alguém que não deseja vender os seus Bitcoins ou Ethereums, usa-os como colateral para solicitar um empréstimo e adquirir outros activos virtuais. No futuro, até poderão ser activos reais tokenizados, como casas e carros, para serem usados como colateral: o tempo o dirá.
O aparecimento dos projectos DeFi é um desafio a um cartel bancário que simplesmente está a destruir o aforro das pessoas, um autêntico insulto ao seu esforço de poupança. Trata-se de um regresso ao mercado onde os indivíduos expõem as suas preferências temporais.