De Criptoloja a Mercado Bitcoin
Era 2019, regressara a Portugal de Espanha. Tinha vivido em Barcelona mais de 10 anos. Acabara de vender a minha participação na Activotrade. Até àquele momento, fora o projecto da minha vida.
Esta ideia iniciou-se com uma viagem de Lisboa para o Porto em 2007 com o meu amigo Pedro Borges. A nossa amizade iniciara-se em 2005. Ela fora o grande instigador da ideia, quando naquela viagem me comentara que os CFDs acabavam de ser aprovados em Espanha: desde então, a ideia nunca mais me saíra da cabeça.
Para obter fundos para o empreendimento, mudara-me para o Dubai, voltando a ser consultor de estratégia. Entretanto, à distância, iniciara a preparação do projecto com um amigo espanhol de longa data, tornando-me seu sócio.
O processo de licenciamento iniciou-se em 2008, com um pedido ao regulador dos mercados financeiros em Espanha: a CNMV. Em conjunto com um escritório de advogados, o meu sócio iniciara todas as diligências para a obtenção da licença.
Era 2009, e recordo-me como se fosse hoje, regressara do Dubai e o projecto de uma corretora online especializada em derivados OTC – CFD e Forex -, com sede em Barcelona, Espanha, estava próximo de ser uma realidade, que chegou no início de 2010 com a obtenção da licença com o número 239.
No início não havia um cêntimo; todas as despesas eram discutidas ao mais ínfimo detalhe. Eis a vida de um empreendedor: começar um negócio do zero, sem clientes, sem colaboradores, mas com uma ideia de negócio na cabeça – no fundo, o mais importante!
Passados uns anos, por volta de 2015, a corretora era a terceira em volume de negócios de derivados OTC, concorrendo com grandes nomes internacionais do mesmo sector. A equipa era constituída pelas pessoas mais fantásticas que até então houvera conhecido. Pessoas absolutamente excepcionais que jamais esquecerei, constituída por espanhóis e portugueses.
Com este sucesso, e apesar de muitas pedras pelo caminho, a vontade de regressar a Portugal fora sempre imensa. Família e saudades assim o ditavam.
Durante esses anos, o meu amigo Pedro Borges fora Director Geral do Saxo Bank no Brasil, tendo sido responsável pelo seu lançamento. Aí, começou a interessar-se sobre Criptomoedas, tendo fundado, após a sua saída do banco, a página “Aprender sobre Bitcoin”. Naquela altura, era a página web com mais conteúdos sobre Bitcoin e Criptomoedas em português.
Tal como eu, as saudades da pátria também o apertaram. Ambos regressámos em 2019. Ao fim de muitos anos sem nos vermos, encontrámo-nos no centro comercial do Campo Pequeno. De um simples almoço para matarmos saudades, abordámos a possibilidade de iniciar uma corretora de Criptomoedas. Por um lado, a nossa experiência ajudar-nos-ia, por outro, o mercado das Criptomoedas estava praticamente por explorar, tanto em Portugal como em Espanha.
Desta forma, no Verão de 2020, mais uma vez do zero, iniciei com o Pedro o projecto Criptoloja, onde decidimos investir uma parte importante das nossas poupanças. A 50%, tal como dois irmãos. Como no início da Activotrade, tudo obrigou a contar tostões.
A web e os sistemas de suporte, como, por exemplo, o CRM e o onboarding do cliente, foram construídas pelo meu amigo Guillem Vidal – a ele, o meu eterno agradecimento. Seguidamente, contratámos um escritório em plena Avenida da Liberdade, com a esperança de arrancarmos de imediato.
Debalde: no final de Agosto de 2020, surgiu uma lei da República a obrigar-nos a um registo junto do Banco de Portugal. Apesar deste revés, onde ficaríamos a pagar um escritório e aplicações contratadas durante vários meses, sem qualquer receita, decidimos não desistir: de imediato, preparámos toda a documentação e apresentámos o nosso registo junto do Banco de Portugal.
Esta instituição centenária, apesar de ser extremamente exigente – tanto eu como o Pedro contactámos com vários reguladores ao longo da nossa vida profissional -, foi absolutamente impecável no cumprimento da nova legislação, questionando-nos sobre todos os aspectos do nosso modelo de negócio, em particular a sua preocupação com o branqueamento de capitais e financiamento ao terrorismo.
O nosso pedido de registo deu-se no final de Setembro de 2020 e obtivemos o mesmo a 15 de Junho de 2021, praticamente 9 meses depois, onde tivemos de suportar várias despesas e viver sem qualquer receita.
Apesar de tudo, iniciámos o projecto Criptoloja com toda a determinação, em particular com a contratação de um CTO, o Fernando Canteiro. Com a sua ajuda, foi possível construir uma plataforma de negociação em praticamente 1 mês; pelo meio, vivemos imensas noites de trabalho e poucas horas de sono.
Devido à nossa experiência no mercado financeiro – o sector mais regulado de toda a economia-, desde o início, tivemos a consciência de que necessitaríamos de um accionista com poder financeiro e forte experiência no sector. Para nós era fundamental, pois a guerra permanente dos bancos às Criptomoedas e a regulação que se avizinhava – a Mica – conduzia-nos a tal conclusão.
Desta forma, em resultado de contactos do Pedro, iniciámos negociações com o Mercado Bitcoin em Setembro de 2021. Tudo correu pelo melhor. Para além da enorme empatia entre as partes, existiu sempre uma forte determinação em alcançar um acordo. Não nos podemos esquecer: Portugal recebia a maior bolsa de Criptomoedas da América Latina, que estava determinada em expandir-se na Europa, com o nosso país a ser o ponto de partida.
O pedido para aquisição de uma participação qualificada na Criptoloja pela 2TM, a holding que controla a bolsa de Criptomoedas Mercado Bitcoin, deu entrada no Banco de Portugal no final de 2021. Em Abril 2022, a operação foi aprovada, tornando a Criptoloja uma participada deste importante grupo brasileiro, avaliado em mais de 2,2 mil milhões de Dólares norte-americanos.
A integração com o grupo não podia ser mais entusiasmante. Em primeiro lugar: a inovação. O Mercado Bitcoin foi pioneiro na tokenização de activos reais, isto é, possibilitando que qualquer investidor tenha acesso a produtos financeiros brasileiros, onde é possível obter as taxas reais mais elevadas do mundo. A tecnologia blockchain e a inovação do Mercado Bitcoin tornaram o Brasil acessível a qualquer investidor, graças à inovação do Mercado Bitcoin.
Por outro, as pessoas. O Brasil tem hoje uma das comunidades empresariais mais dinâmicas do mundo e recursos humanos com competências ímpares e únicas. A experiência deste último ano não podia ser mais entusiasmante.
Hoje, partimos para uma nova etapa da Criptoloja: passar-nos-emos a chamar Mercado Bitcoin. Será seguramente um novo salto, tanto qualitativo como quantitativo.
É um prazer ter sido fundador deste projecto, que seguramente irá deixar uma marca indelével no mercado de Criptomoedas português. Somos agora Mercado Bitcoin!