Breves histórias dos relógios
Os relógios são, desde há muito tempo, o mecanismo para acertar o passo do progresso e o Bitcoin, por ser um novo tipo de relógio, com novas e necessárias capacidades, virá acrescentar mais um episódio, às histórias dos relógios. Eis algumas:
I) Uma forma primitiva e nada rigorosa de relógio, o solar, marca o tempo através do movimento da sombra de um elemento esbelto, como um Obelisco. Poderia ser o caso do obelisco de Luxor, que se encontra na Praça da Concórdia, em Paris, mas não é, porque este nunca foi usado como relógio solar. No entanto, o obelisco viajou para França, em 1840, como pagamento por um relógio mecânico, adquirido por Muhammad Ali, Pasha e Vice-Rei do Egipto.
II) O tal relógio comprado aos franceses, está na cidadela do Cairo, onde é localmente famoso por teimar em errar a hora, apesar das inúmeras reparações e de ter custado um tesouro arqueológico sem preço. Um problema equivalente ao que afetava o igualmente ineficaz relógio do Cais do Sodré, em Lisboa. Este, era uma ironia pomposa, que, por debaixo da solene placa a assinalar “Hora Legal”, passou quase um terço dos seus 90 anos de vida a acertar apenas duas vezes por dia.
III) A diferença de rigor entre Egípcios, Portugueses, de um lado, e Suiços ou Ingleses do outro, pode-se ver na qualidade dos seus relógios. Estes últimos, são mais famosos pelo gigante Ben, mas tiveram o seu maior sucesso na engenhoca de John Harrison que, em 1730, ganhou um prémio no valor de aproximadamente 180 Bitcoins por resolver um problema tecnológico que atormentava os navegadores da Europa há séculos: A medição da Longitude.
IV) Se a medição da longitude carecia de um relógio que não se atrasasse no balanço do mar, a medição das coordenadas de GPS nos telemóveis, precisa de um relógio que se atrasa, precisamente à proporção da fração da velocidade da luz a que o satélite viaja. Este rigor na medição do tempo só foi possível recentemente, no tempo que o relógio da Hora Legal ainda funcionava, com a invenção dos relógios atómicos, capazes de ser colocados no espaço, a medir continuamente a mais infinitesimal distorção do espaço-tempo.
Chegados até aqui, dir-se-ia que o tempo estava controlado, que os incontáveis falhanços dos relógios antigos a contar o passar do tempo estavam de todo ultrapassados e tínhamos, enfim, chegado ao fim dos tempos.
Mas, se é verdade que os relógios presentes podem e marcam com rigor total o passar do tempo, ainda faltava um relógio que marcasse o tempo passado rigorosamente. Esse relógio é o Bitcoin e faz pelo tempo algo que até agora não havia como controlar.
Até ao Bitcoin, um tipo de relógio novo, não porque meça o tempo em absoluto rigor, afinal são precisos cerca de 10 minutos para gerar cada novo bloco e nem isso é muito certo. O que de novo o Bitcoin traz ao tempo é a impossibilidade de alterar o passado.
“Quem controla o presente controla o passado, quem controla o passado controla o futuro”, escreveu George Orwell, inspirado pela mania comunista de re-escrever a história. Aos Marxistas, não há relógio, seja atómico ou solar, que os impeça de adulterar o passado, conseguindo assim estarem ainda mais errados que um relógio parado.
Por exemplo. Até ontem, qualquer pessoa podia tirar uma fotografia com um relógio parado e usar como prova de ter chegado a horas. Esta forma de mentira, pode ir desde a inofensiva balda para dormir até mais tarde, à falsificação grotesca que matou cem milhões de pessoas, ou que continua a escravizar meio mundo, destruindo-lhes as poupanças.
No fundo, o bailout aos bancos é uma forma de reescrever o passado, com consequências gravíssimas para quem não é banqueiro. Com uma simples alteração da ordem dos pagamentos, as dívidas desaparecem, roubando quem não tinha nenhuma culpa e agora acarta com a perda.
O Bitcoin funciona de uma forma que torna os bailouts impossível e para fazer isso faz ainda muito mais. Serve também como prova inequívoca da passagem do tempo. Uma vez inscrito no Blockchain, está comprovado para todo o sempre o quando foi que algo foi.
Basta escrever alguma coisa no Blockchain que fica para sempre guardada a prova de quando foi feita. Satoshi Nakamoto escreveu: “The Times 03/Jan/2009 Chancellor on brink of second bailout for banks” no primeiro de todos os blocos da sua criação, deixando assim a dica do tempo que tem passado.
Um notário, irreversível, incorruptível, inquestionável, inviolável, protege o dinheiro e toda a propriedade privada. Para comprovar quem foi o primeiro, coloca-se num documento, faz-se o hash, regista-se num ordinal, e fica para sempre a prova. O Bitcoin é o primeiro relógio que mede rigorosamente o tempo passado.