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Luís Gomes
Luís Gomes
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Há umas semanas atrás, depois do início do conflito na Ucrânia, a Rússia anunciava que os “países inimigos” passariam a ter de pagar as suas importações, por exemplo, de Gás ou Petróleo, em Rublos ou Ouro, com o rácio fixo de 5000 Rublos por uma grama de Ouro. O que não pode é pagar em Dólares norte-americanos (USD) ou em Euros (EUR) como o fazia até aqui.

Esta mudança de paradigma, segundo muitos analistas, poderá representar o fim do USD como a moeda reserva do mundo. Que moeda irá substituir o USD?

A moeda dos EUA beneficia deste estatuto desde a Segunda Guerra Mundial. Os EUA foram precedidos por cinco países: Inglaterra, França, Holanda, Espanha e Portugal. A sua duração média ao longo do tempo foi de apenas 100 anos; o domínio do USD já dura aproximadamente 80 anos.

Para se tornar moeda reserva do mundo, um dado país tem que ter um papel determinante no comércio internacional; desta forma, a maioria dos países passa a eleger essa divisa para realizar pagamentos internacionais, como é o caso hoje do USD.  

Vejamos o caso de uma empresa angolana: esta tem todo o interesse em receber em USD para as exportações que realiza, por exemplo, de Petróleo para Portugal; e porquê? Sabe que nos meses seguintes, ou mesmo anos, poderá sempre usar esses USDs para realizar compras, por exemplo, em Portugal, pois será aceite.

O estatuto de dinheiro da humanidade coube ao Ouro durante 5 mil anos, pois qualquer comerciante ou homem de negócios, independentemente da sua naturalidade ou residência, podia realizar ou receber pagamentos em Ouro, dado que qualquer entidade ou pessoa o aceitava como meio de pagamento.

No princípio, para além do peso no comércio internacional, a diferença para um país emitir uma moeda reserva do mundo, também tinha de dispor de uma cunhagem confiável e quantidades de metal precioso assinaláveis.  

Um país que respeitasse a quantidade de metal precioso nas moedas por si cunhadas obtinha maior procura pela sua moeda; este foi o caso do Soldo – Numisma em grego -, uma moeda com 4,5 gramas de Ouro que foi emitida pelo Império Bizantino durante séculos e utilizada na maioria das trocas comerciais do Mediterrâneo. Nunca sofreu qualquer desvalorização durante mais de 600 anos, desde a sua introdução em 312, no reinado do imperador romano Constantino I, ao reinado do imperador bizantino Nicéforo II Focas (963–969).

O caso português apresentou características semelhantes: controlava o comércio das especiarias, a matéria-prima de maior valor naquele período, e dispunha de quantidades de Ouro importantes para cunhagem provenientes de S. Jorge da Mina – actual Gana.

No caso dos EUA, estes emergiram da Segunda Guerra Mundial com 21 770 toneladas de reservas de Ouro, o equivalente hoje a 1,32 biliões de USD – aproximadamente 6% do PIB dos EUA -, e possuíam a maior capacidade produtiva do mundo, provada durante o conflito: construiu 141 porta-aviões (de todos os tipos), 203 submarinos, 62 mil bombardeiros, 88 mil tanques e 4 bombas atómicas.

Assim, em 1945, o USD substituiu a Libra Esterlina do Reino Unido como moeda reserva do mundo. Para selar este estatuto, foram estabelecidos os acordos de Bretton Woods: o USD tornou-se a única moeda convertível em Ouro, com o seguinte rácio 35 USD por uma onça de ouro (31,103 gramas), ou seja, 1,13 USD por uma grama de Ouro.

Com o envolvimento dos EUA em vários conflitos militares, em particular o Vietname, de imediato o seu governo iniciou a impressão de USDs sem qualquer respaldo em Ouro. Por outro lado, os défices comerciais da economia norte-americana durante os anos 60 do século transacto, também provocaram a erosão expressiva das suas reservas de Ouro: em 1971, já eram inferiores a 10 mil toneladas, uma queda superior a 50% desde o final da Segunda Guerra Mundial.

Em 1971, Nixon terminou com a convertibilidade do USD em Ouro; para salvar a sua moeda, convenceu os dirigentes da Arábia Saudita, o maior produtor de Petróleo de então, a cotar os barris de crude apenas em USD. Em troca, os sauditas obtiveram a protecção do exército norte-americano. Foi assim criado o mercado dos Petrodólares, em que todos os negócios do Ouro Negro passaram a ser realizados em USDs. Sabemos o destino de Saddam Hussein e de Gaddafi por terem desafiado este monopólio.

Com o fim Bretton Woods em 1971, qual foi a evolução do USD face ao Ouro? Perdeu aproximadamente 98% do seu valor, tal como podemos observar na Figura 2.

Este monopólio monetário desfrutado pelos EUA permite vários abusos; e quais são?

O primeiro: os défices comerciais. Se um determinado país regista importações superiores a exportações, como é o caso do EUA, significa que as vendas de USD são superiores às compras de USD no mercado de divisas, ou seja, ocorre uma pressão vendedora. Vamos utilizar um exemplo para ilustrá-lo melhor:

  • Quando um importador norte-americano adquire bens à China, vende por exemplo 2.000 USD e compra bens chineses no valor de 2.000 USD; o exportador chinês vende os Dólares (USD) ao seu Banco Central e compra Iuanes (CHY);
  • Quando um exportador norte-americano vende bens à China, recebe por exemplo 1.000 USD e vende os bens norte-americanos no valor de 1.000 USD; para pagar ao exportador norte-americano, o importador chinês compra Dólares (USD) e vende Iuanes (CHY);
  • Se a pressão vendedora (2000 USD) supera a pressão compradora (1000 USD), o USD tende a depreciar-se nos mercados internacionais.

Ou seja, um défice comercial para um dado país, por regra, coloca pressão vendedora no mercado para a sua moeda. Este não é o caso do Dólar norte-americano, dada esta ser a divisa reserva do mundo.

Isso explica a “despreocupação” com o maior défice da sua balança comercial de sempre, que ocorreu em 2021: 859,1 mil milhões de USDs; e com o maior défice comercial para apenas um mês, 109,8 mil milhões de USD, que ocorreu no passado mês de Março.

Esta pressão vendedora de USDs não ocorre porque os grandes países exportadores para os EUA não convertem os USDs que recebem para a sua divisa; ao receberem os Dólares (USD) dos importadores norte-americanos, através do seu banco central, aplicam-nos em instrumentos financeiros denominados em USD, como obrigações do tesouro norte-americano (financiando os défices públicos) ou acções de empresas cotadas em bolsa- como é caso do Banco Central Suíço, um dos maiores accionistas da Apple – ou seja, neste caso, não há pressão vendedora de USDs.

Por outro lado, muitos destes países exportadores também optam por acumular os USDs das suas exportações junto do seu Banco Central, pois consideram-nos reservas, dada a sua enorme liquidez no mercado – todos o aceitam. Por exemplo, países como o Brasil quando exportam Soja para os EUA, recebem USDs; em lugar de os vender no mercado, deixam-nos à guarda do seu banco central sem colocar pressão vendedora no mercado.

Na sua óptica, caso a sua divisa seja atacada em crises financeiras, como acontece com a Argentina muitas vezes, o seu Banco Central desata a vender USD – utilizando as referidas reservas – e a comprar Pesos argentinos no mercado, apreciando, desta forma, a sua divisa ou evitando a sua queda abrupta nos mercados.

Quando existem crises financeiras, como a de 2008, atendendo que a maioria dos instrumentos financeiros negociados em bolsa estão denominados em USD (matérias primas, como Petróleo), conduzem à inevitável liquidação, ou seja, a uma venda a qualquer preço, visando obter liquidez: consiste na venda desse instrumento e na compra de USDs, colocando, mais uma vez, pressão compradora sobre a divisa norte-americana. Ou seja, quando ocorrem quedas nas cotações na maioria dos activos financeiros, os investidores fogem para os “braços” do USD.

A maioria dos países do terceiro mundo emite dívida denominada em USD, atendendo que os seus mercados nacionais não possuem poupanças e liquidez para satisfazer a sua oferta de obrigações. Assim, no momento em que emitem empréstimos em USDs, não os convertem na sua divisa local, realizando pagamentos internacionais com esses USD.

No futuro, quando ocorre o pagamento de capital e juros, estes países convertem a sua moeda local em USD, ou seja, vendem a divisa local e compram USDs para poder pagar aos credores internacionais – apenas aceitam receber em USDs. Atendendo que a dívida é crescente, existirá sempre procura por USDs nos mercados para proceder a estes pagamentos.

A última, e talvez a mais importante no período que vivemos, resulta da dimensão dos seus mercados de capitais. Muitos investidores internacionais procuram elevadas rendibilidades, num contexto de taxas de juro 0%, comprando todo o tipo de instrumentos financeiros (acções, obrigações, ETFs, matérias-primas, derivados…); apenas os mercados norte-americanos proporcionam estas oportunidades de investimento – para tal investimento, os investidores internacionais são obrigados a vender a sua divisa e a adquirir USDs para negociarem nessas bolsas de valores.

Estas são as principais razões para que o USD não se afunde nos mercados, a sua situação de moeda reserva do mundo tem mantido os norte-americanos com um nível de vida que não corresponde à sua produção.

O conflito na Ucrânia parece voltar a confirmar esta teoria: em crises, os investidores correm para a moeda reserva do mundo, vendendo activos financeiros e convertendo-os em USDs. Todas as principais moedas do mundo ocidental perderam valor frente ao Rublo desde o início do ano, no entanto, o USD foi o que menos perdeu (ver Figura 3), neste caso apenas 14%; no caso do EUR foram 20%. Apetece perguntar: afinal as sanções foram para a Rússia ou para nós?!

No passado, o lançamento de sanções sobre um dado país, regra geral, levava à ruína da sua divisa. Isso não parece estar a acontecer com o Rublo russo. No início do conflito, o USD frente ao Rublo valorizou-se consideravelmente, tendo chegado a atingir os 139 Rublos por 1 USD; desde então, o USD caiu mais de 50% frente ao Rublo, estando agora a cotar no mínimo do ano, em torno de 64 Rublos (ver Figura 4) por 1 USD.

Este modelo ocidental, dominado pelos EUA, em que um dado país paga as suas contas com a impressora parece estar a chegar ao fim, pois a Rússia e a China, ambos grandes exportadores, a primeira de matérias-primas, o segundo de bens de consumo, já não parecem aceitar o USD como moeda reserva do mundo.

Por um lado, não estão interessados em acumular USDs, veja-se o caso da Rússia que vendeu todas as obrigações emitidas pelo tesouro norte-americano. Por outro, a China deixou de incrementar substancialmente as suas reservas de USDs.  

Em conclusão, parece já não ser possível aos EUA exportarem a sua inflação para a China; esta dura realidade terá agora de ser enfrentada por consumidores norte-americanos e europeus. Em Março último, a inflação situou-se em 8,5% nos EUA, um máximo desde o início dos anos 80 do século transacto.

Fica assim claro que uma nova moeda reserva do mundo terá que emergir desta crise. Julgo que três cenários podem colocar-se:

  • A emergência do Bitcoin como moeda reserva do mundo – já irei explicar as razões;
  • A emergência de uma moeda respaldada por Ouro ou uma combinação de matérias-primas relevantes para a economia mundial;
  • A emergência do Iuane chinês como moeda reserva do mundo, substituindo o USD.

No caso da segunda e terceira opções, estas estariam sempre sujeitas aos “caprichos” e corrupção dos humanos: o imperialismo, os gastos sem fim, as guerras, os défices, provocariam certamente a sua queda; por essa razão, o estatuto de moeda reserva durou em média 100 anos. Existe sempre a tentação de abusar da emissão para financiar gastos através da inflação.

Esse não é o caso do Bitcoin: a emissão em circulação não depende de nenhum governo, estando limitada a 21 milhões; o blockchain está hoje preparado para processar milhões de transferências em curtos espaços de tempo; a rede funciona 24 horas e pode ser acessível a qualquer pessoa ou entidade durante 24 horas, algo impossível nas redes que suportam as moedas fiat.

Por fim, importa ter em mente que emitir novos Bitcoin implica um custo e um “esforço”, ao contrário do Banco Central norte-americano que apenas tem de carregar num botão para criar nova massa monetária, isto é, sem qualquer custo.

Os próximos anos serão disruptivos, a supremacia futura do sistema monetário é agora uma incógnita.

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Luís Gomes

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